terça-feira, 23 de setembro de 2014

Carta de Renúncia da Direção Estadual do Sepe/RJ, Wíria Alcântara da Direção

Aos camaradas de luta comunico a minha saída da Direção Estadual do Sepe/RJ

No ano em que completa 37 anos de existência o nosso sindicato é chamado a enfrentar um dos maiores desafios de sua história: a luta em defesa da democracia, do direito de organização e do direito de greve. Acreditamos que este embate demanda uma reorientação nos métodos e práticas que hoje hegemonizam a condução da nossa entidade.


Se temos, por um lado, os governos que intensificam o ataque e a perseguição contra trabalhadores/as que ocupam as ruas negando o projeto de mercantilização da educação pública, devemos ter, de outro, uma ferramenta de luta afinada que seja capaz de aglutinar esses lutadores/as para enfrentar de forma unificada todos esses ataques.

A categoria que protagonizou as greves de 2013 e a greve unificada de 2014 entendeu a necessidade dessa ferramenta de luta e ocupou o sindicato buscando ampliar os seus espaços de democracia direta. Constituiu comandos de greve locais e estadual, comissões por secretarias, GTs de atos, tomando em suas mãos a condução de todo o processo de luta, desde a elaboração de políticas, materiais, condução de atos, etc.

A nosso ver a maioria das organizações que dirigem o sindicato deixaram de aproveitar esse momento, de construir a unidade em torno desses/as lutadores/as de forma a dar musculatura e potencializar a nossa luta, fortalecendo a nossa entidade. Ao contrário disso, esses setores se unificaram para encerrar a greve de 2014, utilizando-se de métodos muito semelhantes aos dos governos, criminalizando e hostilizando esta nova vanguarda combativa.

Ora, se “O Sepe somos nós, nossa força e nossa voz” é certo que ele precisa estar aberto às novas parcelas da categoria que hoje se aproximam para contribuir e dar continuidade a história de luta da nossa entidade. O impasse que vivenciamos é a negação do “novo” por parte daqueles/as que acreditam que a sua experiência de luta lhes confere poder, e que a sua legitimidade está associada ao tempo de militância, relegando dentro dessa lógica aos novos lutadores um patamar inferior na escala da militância.

Acreditamos que, em parte, essa negação do “novo” esteja associada ao processo de burocratização dessas antigas direções no interior do SEPE somado a uma disputa intestina de seu aparato. Isso também se evidencia de forma perversa no interior da direção colegiada, através da intolerância dos setores majoritários com os dirigentes que não coadunam de suas opções políticas. Essa intolerância tem inviabilizado as nossas ações no cotidiano da estrutura central do sindicato, uma vez que a imprensa acaba sendo utilizada para legitimar a posição majoritária.

Não negamos a história e a importância desses/as lutadores e lutadoras que construíram o SEPE, entretanto acreditamos que é preciso combater a burocratização para garantir a unidade saudável entre a experiência dos antigos e a renovação dos nossos quadros dirigentes. Nesse sentido acreditamos que a melhor atitude a tomarmos neste momento é a renúncia ao cargo na direção estadual e o retorno à escola. Reafirmamos o compromisso assumido na diretoria da regional I, onde atuando enquanto direção é possível manter o diálogo e a construção coletiva junto à base da categoria.

Por fim avaliamos que a defesa e o fortalecimento do SEPE neste momento requer a percepção no interior da categoria que direção e base compõem um mesmo organismo. Como parte de uma mesma categoria não podemos estar distanciados ou imunes aos efeitos nefastos desse projeto privatista que avança nas escolas públicas, é necessário lutar ombro a ombro com nossos camaradas no interior das escolas. Acreditamos que essa é a melhor forma de contribuirmos para o resgate da credibilidade de nossa entidade e para o avanço da nossa luta.


Saudações,


Wíria Alcântara – Coletivo Alicerce Educação.
Rio de Janeiro, 07 de julho de 2014

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