EDITORIAL
O ano de 2013 acirrou as disputas de projeto de
sociedade em nosso país. Milhares de pessoas ocuparam as ruas questionando o
reajuste das tarifas de transportes, a violência do Estado, o modelo de
democracia representativa, a corrupção na máquina pública, a falta de
investimentos em áreas sociais, tais como saúde, educação, moradia, entre
outros direitos básicos desconsiderados pelos governantes.
Se por um lado, as mobilizações reascenderam a
esperança de que a luta conquista, principalmente se considerado o recuo dos
governos no reajuste das passagens, por outro lado vivenciamos o
recrudescimento da repressão e criminalização dos movimentos sociais. Ações
truculentas da polícia contra manifestantes, prisões arbitrárias, agentes
infiltrados em atos e passeatas, demonstraram que os governos, associados ao
grande capital, não estão dispostos a arriscar seu projeto de mercantilização
do espaço urbano e da vida.
É neste contexto de indignação e revolta social que
eclodem as greves, nas duas maiores redes públicas de ensino do Rio de Janeiro,
que abalaram o estado e o país.
As greves na educação significaram sem dúvida um
salto de qualidade político e organizativo na base da categoria. Ações
radicalizadas como os atos unificados de massa, as ocupações e acampamentos,
que tiveram como resposta uma forte ofensiva do aparato de repressão dos
governos, causaram comoção e solidariedade do conjunto da sociedade ao
movimento, que se nacionalizou e internacionalizou.
O movimento dos educadores chegou a colocar em xeque
o modelo de educação do capital para as redes públicas, ao desafiar os governos
sustentando que a luta não era apenas por salários: “temos uma pauta
pedagógica, a nossa disputa é de projeto de escola e de sociedade!”
Em que pesem todos os problemas que levaram ao fim
das greves no RJ, que devem ser alvo de um balanço rigoroso entre categoria e
direção sindical, o enfrentamento com este projeto de educação subserviente aos
interesses do mercado, e que desconsidera as necessidades de formação humana de
nossos alunos, não é local e não se esgota em uma greve.
Pensando nisso e, buscando ampliar o debate acerca
da natureza dos ataques que a educação pública e que nós trabalhadores da
educação estamos sofrendo em escala nacional e mundial, é que nós do Coletivo
Alicerce Educação decidimos lançar esta primeira edição de nossa revista como
contribuição ao XIV Congresso do SEPE/RJ. O nosso coletivo reúne
trabalhadores/as da educação, do ensino básico e superior, que estão mobilizados
nacionalmente buscando contribuir para a qualificação do debate acerca das
políticas que expressam os ataques de distintos governos à educação pública em
nosso país.
No SEPE/RJ nos organizamos no Campo Luta Educadora e
assinamos a Tese 7 do Caderno de Teses Gerais, cujo título é “A Luta é
Educadora: Quem Decide é a Base!”.
Esperamos que os textos aqui publicados apontem
pistas que possibilitem qualificar nossas reflexões e ações na luta em defesa
de uma educação pública de qualidade, que seja de fato crítica e libertadora
para os filhos daqueles que vivem do próprio trabalho. Boa Leitura e Vamos ao
Debate!
ARTIGO 1)
REESTRUTURAÇÃO DO ENSINO: EDUCAR PARA O CAPITAL
Por André Barroso
e Wíria Alcântara
O projeto hegemônico em curso, no que tange a educação pública
brasileira, e nos demais países periféricos, é uma vinculação direta a um
propósito que, em nossa opinião, não só distorce o sentido da educação pública,
gratuita e de qualidade para todos, e sua função social, como também submete os
interesses de profissionais e estudantes a um projeto de administração e gestão
empresariais com base em metas, cuja uniformização dos parâmetros vai de
encontro à diversidade das redes estaduais e municipais, bem como as
diversidades que se encontram em uma mesma unidade escolar.
Conceitos como empregabilidade e educação para o trabalho ressurgem com
muita força, no Brasil e em diversos países da América Latina, como reflexo
direto do conceito “reestruturação produtiva” que pautou os debates sobre
trabalho, luta sindical e educação na década de 1990 e no início dos anos 2000
(Gentili e Suárez, 2004). Em outra obra (Gentili, 1998) vai apontar a
construção de um discurso que pode ganhar eco na opinião pública,
principalmente naqueles que dependem da escola pública para manter seus filhos,
que são as políticas de transferência de capital para prefeituras e estados, e
que o problema da educação está na má gestão dos recursos e não na falta de
investimentos.
Mas duas coisas não são ditas: a) os recursos destinados à educação pelo
governo federal representam no conjunto da arrecadação do governo federal, 0,2
% contra 47% destinados ao pagamento de juros aos bancos; b) destes poucos que
são gastos com educação no Brasil, uma boa parte dele vai também para
instituições particulares por meio de programas de financiamento da educação
superior.
Merece destaque também as transferências internacionais, como o PLI
(Programa de Licenciaturas Internacionais), que pode ser uma boa perspectiva de
formação no exterior, mas que, por outro lado, expõe jovens que, lançados em um
país e numa cultura estranha a sua, sofrem com as mais variadas formas de vulnerabilidade
e desestímulo longe de sua casa e de sua família, sem o menor acompanhamento,
salvo raríssimas exceções. Programa esse que em Portugal, por exemplo, serve
para alimentar instituições de ensino superior em um país onde as universidades,
que outrora eram públicas, hoje cobram “propinas” para seus alunos. Só a título
de exemplo, o curso de engenharia da Universidade de Coimbra tem 60% das suas
matrículas ocupadas por alunos brasileiros, sem falar de alguns programas de mestrado
e doutorado que sequer são reconhecidos no Brasil.
Não é possível compreender esse processo de “reestruturação” da educação
pública e do trabalho dos profissionais de ensino sem considerarmos que a
educação está inscrita num contexto social mais amplo, de subordinação da
produção e reprodução da vida aos interesses de desenvolvimento e rentabilidade
do capital. Principalmente porque educação envolve a socialização de mais de 50
milhões de jovens e crianças que serão força de trabalho no futuro, o que
requer, não apenas a capacitação técnica, mas também, a construção de
subjetividades adaptadas aos novos padrões de consumo e de exploração do
trabalho. Não é por acaso que o texto do atual Plano Nacional da Educação
(PNE), já aprovado no Senado e com perspectivas de ser votado no Congresso
ainda em 2014, privilegia essa formação de “novo tipo” afinada aos interesses
das grandes corporações que hoje dominam “os negócios” educacionais.
A hegemonia do PT no governo federal, antes com
Lula, agora com Dilma, só se mantém a partir de grandes concessões ao Bloco de
Poder composto pelas principais frações burguesas, entre elas os setores
ligados organicamente às finanças - liderados pelo Itaú - que incorporam
funções organizadoras na sociedade e estrategicamente na educação, tendo na
coalizão “Todos Pela Educação” sua expressão máxima de ingerência de classe na
educação pública.
Em nome de uma falsa revolução nos métodos e na
pedagogia, Instituições e Fundações abocanham robustas quantias de recursos
públicos, para assumir funções que outrora pertenciam aos trabalhadores da
educação, quando havia autonomia pedagógica nas escolas. São milhões gastos em
materiais pedagógicos que nada acrescentam em nossas práticas, ao contrário,
reduzem significativamente os currículos, impondo uma proposta de educação
mínima e instrumental para os alunos das classes populares.
Neste caminho
vem o discurso falseado novamente, que parece bom, mas acaba por se mostrar
nefasto, que é a máxima de que quanto mais tempo a criança ou jovem passa na
escola melhor será o seu desempenho no futuro, errado, pois a integralização da
educação, sem projeto pedagógico, sem valorização do profissional e contratação
de mais profissionais, transformará as escolas em depósito de crianças e
jovens, cuja consequência é o que já aponta o relatório do MEC de 2013,
publicado no jornal “O Globo” de 26 de março de 2014, que é o desempenho insuficiente
dos alunos do ensino fundamental e a evasão dos alunos do ensino médio. É
preciso mudar esse jogo!
Bibligrafia:
SADER, E. GENTILI,
P. BORÓN, A.
(1995). Pós-neoliberalismo:
as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e
Terra.
GENTILI, P. APLLE, W. M. (1997). Pedagogia da
exclusão: crítica ao neoliberalismo em educação. Petrópolis: Vozes.
__________ (1998). A falsificação do
consenso: simulacro e imposição na reforma educacional do neoliberalismo.
Petrópolis: Editora Vozes.
LANDER,
E.
GENTILI, P.
(2001). Universidades na
penumbra: neoliberalismo e reestruturação universitária. Rio de Janeira: Cortez
Editora.
GENTILI,
P. MCCOWAN, T. (2003). Reinventar a escola pública: política educacional para um novo Brasil.
Petrópolis: Editora Vozes.
__________. SUÀREZ, D. (2004). Reforma
educacional e luta democrática: um debate sobre ação sindical docente na
América Latina. Rio de Janeiro: Cortez.
ARTIGO
2) EMPRESARIAMENTO
DA EDUCAÇÃO, O QUE NÓS TEMOS A VER COM ISSO?
Por
Wíria Alcântara e Geovano Fonseca
Na década de 1990 o economista Cláudio Moura Castro
– articulista da VEJA e presidente do conselho consultivo da Faculdade
Pitágoras – já afirmava em encontros com outros empresários que “educação é
investimento”.
O giro do empresariado para a disputa da agenda das
políticas públicas para educação, aqui conceituado como “Empresariamento da
Educação”, parte do pressuposto de que a forma organizativa da iniciativa
privada é a solução para os problemas da educação.
Sustentada pelo
discurso de que o público (Estatal) é sinônimo de ineficiência, enquanto a
iniciativa privada estaria associada à eficiência e qualidade, está em curso no
Brasil uma verdadeira ofensiva ideológica que tem por fim inculcar valores e
interesses próprios de mercado na esfera educacional.
Mas quais são os eixos
que norteiam este modelo de política “empresarial” na educação?
Segundo Freitas os três
pilares que consubstanciam a proposta dos “reformadores empresariais” na
educação são: a responsabilização, a meritocracia e a privatização.
Na prática, a política
é delineada pela adoção de soluções gerenciais como uma nova proposta de gestão
para escolas públicas. E se baseia na busca da “eficiência” através do menor
custo e “melhor” resultado – entenda-se melhor resultado como alcance de metas
e índices pelas escolas – tal qual em empresas e fábricas.
Planos de metas,
avaliações de desempenho, certificações, bonificações por resultados, 14º
salário – prêmios e punições – fazem parte deste processo de RESPONSABILIZAÇÃO
dos trabalhadores da educação.
A MERITOCRACIA, tão
defendida pelos governos e repudiada pelos educadores, reflete a essência da
doutrina liberal – propondo a igualdade de “oportunidades” e não de direitos
(ou conquistas). Assim basta que sejam oferecidas as oportunidades (pacotes e
programas concebidos por economistas), e o resultado será fruto do esforço
individual de cada profissional, aluno ou comunidade escolar.
O mérito utilizado
enquanto método, ao invés de reafirmar a educação pública de qualidade enquanto
um direito universal que deve ser garantido pelo Estado, promove a disputa
entre comunidades escolares sem levar em conta as condições reais nas quais
estão imersos trabalhadores e alunos. Com incentivos diferenciados, políticas
de bônus e premiações as redes vão se hierarquizando, e as escolas começam a
ser classificadas entre “melhores” e
“piores”.
O impacto para os
trabalhadores da educação também é bastante negativo, uma vez que a
meritocracia ataca diretamente à carreira e a isonomia salarial, atrelando
ganhos a avaliações de desempenho, e ao alcance de metas que desconsideram os
distintos fatores estruturais e emocionais que permeiam o cotidiano de trabalho
dos profissionais nas escolas. Também introduz critérios duvidosos para a concessão
de premiação e incentivos salariais, provas/certificações organizadas por
governantes de ocasião podem facilmente favorecer o clientelismo e ferir a
impessoalidade garantida a partir da aprovação em concurso público.
O terceiro pilar do
empresariamento da educação é a privatização, que se efetiva por meio das
chamadas parcerias público-privadas. Nas escolas públicas este processo é
reconhecido a partir da ofensiva dos Institutos e Fundações como
“colaboradores” e “organizadores” de projetos, currículos, materiais
pedagógicos e da própria gestão da escola. É por aí que os empresários
conseguem abocanhar vultosas quantias do dinheiro público, que o Estado
destinaria à educação.
Em nosso estado e
município várias escolas estão sendo administradas a partir de parcerias
público-privadas. O Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais
(GENTE) na rede municipal do RJ, que tem sua gestão compartilhada com o
Instituto Ayrton Senna, Microsoft, Instituto Natura, Vivo, Intel, Cultura
Inglesa entre outros, o Colégio Estadual José Lopes Leite (NAVE) em parceria
com o Instituto OI Futuro, e o Colégio Estadual Comendador Valentin dos Santos
Diniz (NATA), em parceria com o Grupo Pão de Açúcar, são apenas alguns dos
muitos exemplos de escolas públicas que funcionam sob a intervenção de grupos
privados.
Mas quais são os interesses desses novos atores no
campo educacional?
Hoje assistimos se multiplicarem os “especialistas
em educação”, não são mais os educadores que têm sido chamados a opinar acerca
dos rumos e problemas da educação. Isso se deve, em parte, a uma tentativa de
construir consenso acerca da ideia de que os problemas da qualidade do ensino
são decorrentes da má gestão dos recursos – que já seriam suficientes –
alocados na educação, e do corporativismo docente, assim como da filiação de
uma ampla maioria dos profissionais da educação a ideologias ultrapassadas,
como o Marxismo. Aí residiria o atraso, o entrave para o progresso e para o
avanço econômico do país.
A grande mídia tem sido uma importante parceira no
processo de difusão deste ideário, em busca da adesão/consentimento do conjunto
da sociedade ao projeto. Personagens como o empresário Gustavo Ioschpe, que é
presidente da G7 Investimentos, Conselheiro da Iochpe-Maxion S.A. e da Fundação
Iochpe, consultor de projeto do Banco Mundial/PNUD para o Ministério da
Educação do Brasil, e membro do Todos Pela Educação, são constantemente
requisitados pela imprensa para falar em nome da educação.
O discurso do empresariado para justificar o
interesse do mercado no processo de elaboração das políticas educacionais
também está baseado na afirmação de que a educação é um eficiente “instrumento”
de redução da desigualdade social, para tanto é necessário estabelecer um
modelo educacional que defina claramente o que os alunos devem aprender –
competências e habilidades requeridas pelo capital.
Também postulam que serão eles, os empresários, os
consumidores finais do produto retirado da escola, o aluno. A relação
estabelecida é desumanizadora e similar à compra e venda de um “produto” - ou
força de trabalho - pelo mercado. A educação é tratada, portanto, de forma
utilitária e como ferramenta de construção de uma nova ética, nos marcos da
mercantilização da vida.
Mas a educação não deixa de ser também um grande
negócio para os empresários. Um artigo publicado pela revista EXAME no ano de
2008 já apontava a educação como um investimento lucrativo, destacando-se como
um dos mercados mais promissores para as próximas duas décadas.
Aqui no RJ, apenas no
ano de 2012, a Secretaria Municipal de Educação transferiu R$ 70.345 milhões
para Instituições privadas, tais como o Instituto Sangari, a Fundação Roberto
Marinho, a Abril Cultural e o Instituto Ayrton Senna. No ano de 2013 a Empresa Consulplan faturou
em plena greve da rede de ensino municipal o montante de R$ 9,4 milhões por
serviços de correção de provas.
Quais as consequências
do Empresariamento da Educação?
O empresariamento da educação é antes de tudo uma
ideologia que nega a concepção da educação enquanto direito universal, direito
este que visa garantir a socialização dos conhecimentos necessários para a formação
integral das novas gerações. Conhecimentos que permitirão o desenvolvimento e a
formação de crianças e jovens para atuarem de forma crítica e autônoma na vida
adulta, contribuindo para superar as desigualdades e injustiças presentes no
atual modelo de sociabilidade.
A adoção deste modelo empresarial em larga escala,
nas redes públicas de ensino, além de atacar diretamente os trabalhadores da
educação promovendo a expropriação da sua função de intelectual e de organizador
das práticas pedagógicas – que passam a ser concebidas por Institutos e
Fundações de natureza privada – irá ocasionar um verdadeiro genocídio
intelectual para as novas gerações, oriundas das classes populares. O
rebaixamento dos currículos e a uniformização dos métodos, através das apostilas,
cartilhas e treinamento para provas e testes padronizados, que privilegiam
disciplinas geralmente em áreas de língua portuguesa, matemática e ciências, e que
condenam a um patamar inferior as demais disciplinas, resgatam, de acordo com
Frigotto, “a herança histórica dominante do pragmatismo, tecnicismo e do
economicismo, cujo escopo é de uma educação unilateral – educar para o mercado
e formar o cidadão produtivo”.
Tal qual uma ideologia, o “Empresariamento da
Educação” procura se legitimar socialmente através do convencimento e da busca
de adesões em torno do seu programa de reforma do ensino. Opera através de grupos com nomes acima de
qualquer suspeita: “AMIGOS DA ESCOLA”; “TODOS PELA EDUCAÇÃO”, a exemplo do
Programa “NENHUMA CRIANÇA FICA PARA TRÁS” (NO CHILD LEFT BEHIND) instituído em
Janeiro de 2002, pelo governo George W. Bush, nos EUA.
Apesar de se apresentar como uma proposta inovadora,
capaz de solucionar as mazelas que afetam a qualidade do ensino público, sua
essência está fundamentada na dominação, exploração, no lucro, e na difusão de novos
valores éticos calcados na competição e no individualismo.
Essa proposta de reforma, que fracassou nos EUA e
que levou a ex-secretária assistente de educação do governo George H. W. Bush –
Diane Ravitch – a fazer uma autocrítica no livro “Vida e Morte do Grande
Sistema Escolar Americano”, é a mesma que agora tenta se firmar nas redes
públicas de ensino do nosso país.
O desafio que está colocado na ordem do dia para nós
trabalhadores da educação, que acreditamos que a escola tem o papel fundamental
de contribuir com o processo de transição para um novo modelo de produção e
organização da vida social, é combater esse projeto em fase de implementação em
nosso país.
A conjuntura de efervescência das lutas favorece o
questionamento destas políticas que não apontam respostas para os problemas
estruturais e cotidianos das escolas públicas tais como, aumento da evasão
escolar, fechamento de escolas e turmas, falta de professores e funcionários,
aumento da violência, péssimas condições de trabalho, entre outros problemas.
Por isso é fundamental organizarmos a nossa
resistência e a luta em defesa da escola pública em conjunto com os movimentos
sociais e com os trabalhadores que se encontram em luta pelos seus mais
variados direitos. O que está em debate é a defesa de um modelo de educação que
deve estar a serviço do desenvolvimento humano, e de uma sociedade que afirme
as pessoas em primeiro lugar, e não a produção e o lucro.
BIBLIOGRAFIA:
FREITAS, Luiz Carlos. Os Reformadores Empresariais
da Educação: Da desmoralização do magistério à destruição do sistema público de
educação. Educação e Sociedade. Vol.33. Nº 119. Campinas. 2012.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Teoria e Práxis e o Antagonismo
entre a Formação Politécnica e as Relações Sociais Capitalistas. Trabalho
Educação e Saúde. Vol. 7. 2009
RAVITCH, Diane. Vida e Morte do Grande Sistema
Escolar Americano.Editora Sulina.2011.
ARTIGO 3)
EDUCAÇÃO PÚBLICA : MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA
Por Antônio Pedro
Fernandes
O debate aqui tem como pano de fundo o papel do
Estado na educação e a lógica que orienta as ações no processo educacional nos
estados e municípios, cujo objetivo mais imediato neste artigo é aplicação
dessa política na rede estadual e municipal do Rio de Janeiro. Segundo Álvaro
Moreira Hipólito: neste sentido que se
identifica que no Brasil no século XX, em relação ao seu processo de trabalho,
que a escola passou por uma série de modificações que fizeram seu perfil em
termos de estrutura e organização. Apesar dessas modificações nem sempre
mostrarem-se aparentes, substancialmente a escola transitou de um modelo
tradicional, que se caracteriza pela autonomia do professor (a) em relação ao
ensino e à organização escolar e por processos burocráticos praticamente
inexistentes, para um modelo técnico-burocrático, caracterizado pela redução da
autonomia do professor em relação ao ensino e à organização da escola- divisão
de tarefas, formas de controle, hierarquização- enfim por uma marca burocrática
muito acentuada (HIPÓLITO, 1991, p. 4) .
Na fase atual do capitalismo a escola passa por um
processo de precarização das condições de trabalho, de aprofundamento do
individualismo, perda de autonomia pedagógica e por um profundo rebaixamento do
processo educativo na escola. (Saviani,
2007). Sob o tacão do governo Sérgio
Cabral e Eduardo Paes essa concepção reduzida de qualidade da educação nos
marcos de uma proposta em curso do Estado mínimo, defensor de uma educação
minimalista, no qual se opera uma política de desmonte da escola pública ao
mesmo tempo, que se fortalece ideologicamente o pensamento empresarial com
conceito de professor empreendedor, gestor, inovador, tutor e outros conceitos
travestidos de funções docentes, são nestas as bases que residem a hegemonia do
capital no campo da educação.
Não é de hoje, que o conhecimento produzido e
difundido na sociedade, no espaço escolar, acadêmico e nas instituições
formais, vem pautando uma agenda que coloca a importância da função social da
escola como desafio a ser alcançado, no momento que, o projeto do capital vem
operando uma política de refuncionalização da escola nos moldes empresarial em
detrimento de uma educação crítica dos filhos (as) dos trabalhadores (as).
Diante dessa suposta “modernização” o que percebemos no cotidiano escolar, são
esforços individuais por profissionais da educação ou por projeto em algumas
escolas de forma isolada, e a ação pontual por parte do governo estadual e
municipal/RJ no ensino básico.
Essa ESTRATÉGIA feitichizada dos governos Cabral e
Paes servem aos interesses políticos dos governos tiranos em legitimar uma EDUCAÇÃO CONSERVADORA com objetivo é
elevar os índices educacionais de forma artificializada.
Como afirma (Saviani, 2007) os cálculos dos Índices
do Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) no plano de metas, diretrizes do
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
Considerando que essa diretriz do (PDE) trás como proposta uma concepção
reduzida de qualidade da educação, lógica que embasa o programa, “Compromisso
Todos pela Educação” que é traduzida numa espécie de Pedagogia de Resultado: O
governo se equipa com instrumentos de avaliação dos produtos, forçando com
isso, que o processo se ajuste às exigências postas pelas demandas das empresas
(cf. SAVIANI, 2007, p. 1253).
As diretrizes e ações dos prepostos do poder político instituído, interlocutores e articuladores com outras esferas de atuação no campo
educacional, como os setores empresarial e financeiro privados de gestão e
racionalidade mercadológica da educação, como uma mercadoria, redução de
unidades escolares e o esvaziamento do projeto político pedagógico da escola,
revelam um retrocesso de cunho conservador na estrutura educacional, lugar de cooptação de muitos intelectuais pela
ideologia do consenso de uma educação mínima desprovida de pensamento crítico.
Ex: Claudia Costin e Wilson Risolia secretário (a) de educação que
protagonizaram um dos maiores ataques nos últimos anos, aos direitos dos profissionais da educação
pública do Rio de Janeiro.
Na contraposição contra essa perversidade na
educação da classe, elencamos algumas das reivindicações dos profissionais da
educação pela necessidade de uma política educacional de ruptura com dos
setores dominantes, e que contemple a qualidade
no processo educacional: priorizar democracia
nas escolas das redes, a realização de
eleições diretas para diretores, respeito à autonomia pedagógica da escola,
valorização da carreira do magistério, participação dos profissionais da
educação no processo decisório da educação e na comunidade escolar, 10% do PIB
para educação pública e NÃO a proposta governista do (PNE) para educação
privada , o fim das terceirizações, das
privatizações, fechamento de escolas e a construção de mais Unidades Escolares.
No contexto
das lutas sociais no Brasil nos anos de l980, Florestan Fernandes (1989) analisando
o modo como os setores dominantes lograram construir uma saída pelo alto,
reaglutinando de modo limitado as principais frações burguesa em crise de
hegemonia propugnou um novo ponto de partida. Que a defesa da escola pública
não pode estar limitada aos profissionais da educação. Assim, uma primeira frente a ser enfrentada é
a reorganização da luta pela escola pública como iniciativa da classe
trabalhadora, o que exige, simultaneamente, tanto a constituição dos educadores
como os trabalhadores em luta (dos setores públicos, da educação básica,
tecnológica e superior) com objetivos de classe, métodos de lutas próprios da
classe trabalhadora como alargamento pela educação para o conjunto da classe
trabalhadora, incluindo sindicatos, partidos anticapitalistas, movimentos dos
trabalhadores rurais, desempregados, sem
teto, juventude das favelas e outros não possuidores de bens. Trabalho
Necessário, (Ano 10 Nº 15/2012).In: www.uff.br/trabalhonecessário .
Como já assinalava Florestan Fernandes nos anos de
1980 para conquistarmos uma educação pública de qualidade e libertária. Hoje
seu pensamento está atualíssimo. Precisamos avançar na construção política em
defesa da unidade de amplos setores da classe, buscando construir um movimento
contra- hegemônico que envolva todos os setores classistas, e, as jornadas de
junho a outubro de 2013 e as perspectiva de 2014 com a copa do mundo, estão
demonstrando que a possibilidade de uma
contra- ofensiva das classes populares contra o projeto do capital, pode
tornar-se uma realidade concreta de luta na atual conjuntura.
ARTIGO 4)
2014! NO CARNAVAL DOS RICOS, OS GARIS
DERAM O TOM!
Por Geovano Fonseca
Era
sábado, 8 de março, Dia Internacional da Mulher e também será conhecido como “O Dia da Vitória da Greve dos
Garis Cariocas”. Representa também uma vitória do “time da maioria”. Entenda-se por “maioria”, o conjunto
daqueles que vivem de seu trabalho e as organizações que lutam para proteger
sua dignidade contra a sanha do capital.
Ao contrário das empreiteiras, bancos, corporações da mídia burguesa e
de todos os setores que projetaram lucros extraordinários com a copa do mundo
de 2014, que chamaremos de “time da minoria”.
A
manutenção dos serviços públicos e o direito à cidade estão condicionados a
dinâmica de mercado. Dinâmica, esta um pouco questionada nas jornadas de junho e na greve dos
trabalhadores da educação do Município e do Estado do Rio de Janeiro, foi um
2013 de preparação.
Neste
início de 2014, a “minoria” já preparou um pacote de leis federais para
criminalizar os movimentos sociais e reforçou os slogans de ufanismo nacional,
aumentando a carga ideológica sobre a população. Em seus jornais e telejornais,
censuram tudo que exponha seus interesses de classe. A classe dominante nos impõe a política do
“porrete e da cenoura”.
As
festas populares viraram negócios. A legítima expressão artística e cultural da
população brasileira é cada vez mais capitaneada por esquemas ideológicos de
controle social. Se a repressão sintetiza o lado do “porrete”,
estes esquemas referem-se ao lado da “cenoura”.
Esse
é o pano de fundo da greve dos garis. O Prefeito, seu staff e as classes
dominantes cariocas, cegos em sua soberba não puderam imaginar que mulheres e
homens simples, humilhados por anos a fio, tivessem a ousadia de desafiá-los em
pleno carnaval, e pior, no ano da Copa do Mundo. Subitamente, o carnaval
carioca, cuidadosamente moldado para ocultar as mazelas sociais da chamada
“cidade maravilhosa”, foi transformado em palco de uma crise que comoveu o país
inteiro.
Rapidamente,
o triunvirato formado pelo Presidente da Comlurb, pela Direção do sindicato,
liderados pelo Alcaide Eduardo Paes, divulgaram a versão de que não existia
greve. “...Greve? Como greve? A Comlurb e o sindicato acabaram de fechar um
acordo. Os garis terão um aumento de 9% no piso, diziam”.
Na versão oficial, o
movimento não passava da ação de um grupelho de “300 garis” inconformados e
orquestrados por sindicatos e partidos de oposição ao governo municipal.
O
“time da minoria” carioca estava entrosado. Ao sindicato pelego coube insinuar
que havia infiltração “alienígena” como origem do movimento; a Comlurb noticiou
a demissão dos “300” como forma “pedagógica” de doutrinar quem ainda se
mantinha trabalhando. O prefeito, no melhor estilo “centro- avante matador”
contratou escolta armada para garantir a coleta do lixo, sob a alegação de ter
recebido denúncias de que grupos estavam hostilizando trabalhadores e
destruindo equipamentos da empresa.
Imbuído
da tarefa de vencer os garis a qualquer preço, Eduardo Paes cometeu duas
“faltas” em um curto espaço de tempo.
Primeiro,
definiu como Motim um movimento legitimo da classe trabalhadora, conquistado ao
longo de mais de 160 anos de história do movimento operário.
Depois foi filmado
jogando lixo no chão da cidade. Na tentativa de abafar o caso, criou mais um
factoide. Ordenou que a Comlurb o multasse pelo suposto delito. A esta altura o Prefeito que tirou onda de
“centro- avante” já era visto como um “perna-de-pau” de time da terceira
divisão.
Diferentemente
de outros tempos, a cobertura alternativa da Mídia Ninja, Nova Democracia, TV Comunitária
de Niterói entre outros, facilitou a circulação da notícia e a criação de uma
rede de solidariedade aos grevistas.
Na 5ª feira, 6 de
março, os garis já contavam com as organizações: FIST, FIP, SINTUFF, SEPE-RJ, SINDIPETRO-RJ,
ANDES-SN, ADUR-RJ, OAB-RJ, entre outras, além de diversos apoios nas redes
sociais pelo Brasil inteiro, e de anônimos que acompanhavam ao longe as
passeatas.
Das
diversas manifestações, destaca-se a de 7 de março, 10h na sede da Prefeitura. Os jornais matinais estampavam as fotos do
Prefeito sujando a cidade e populares já apresentavam espontaneamente seu apoio
à greve. O jogo começara a mudar.
Graças
a combatividade da “garisada” e a rede de solidariedade de classe, o Ministério
Público do Trabalho (MPT), foi provocado. Havia tantas denúncias de assédio moral contra
a Comlurb, que os trabalhadores só foram dispensados por volta das 23h.
Com
a entrada do MPT os grevistas arrancaram uma audiência de conciliação marcada
para 11 de março (3ª feira). O relógio
já corria contra a prefeitura. E o
movimento divulgava:
_ Uma
manifestação para o dia seguinte, 8 de março na Central do Brasil e outra para o domingo, na zona sul carioca
passando pela orla de Copacabana, Ipanema e Leblon;
_ os serviços de meteorologia já anunciavam chuvas
na cidade, para o fim de semana;
_ a possível adesão dos APA`s (Agentes de Preparação
de Alimentos) a partir de 10 de março (2ª feira);
Qual
seria a repercussão do ato na orla do Rio? Do caos instalado com lixo entupindo
tudo na cidade? E o perigo da greve se alastrar para educação e saúde, já que
os APA`s trabalham em muitas escolas e hospitais da rede municipal? Provavelmente o Prefeito já pedia socorro!
Aí entra em campo a Justiça do Trabalho.
Fazendo o “meio de campo” do “time da minoria”, “deu tratos à bola” e antecipou
a conciliação para 8 de março (sábado), mas só informou a liderança do movimento
por volta de zero hora do mesmo dia. O ato da Central foi logo transformado
numa passeata em direção ao TRT, na Av. Antonio Carlos. E após 5h de negociação, a prefeitura
concordou em rever as demissões, aumentou o piso em 37% (de R$ 802 para R$
1100), o mesmo para o adicional de 40% de insalubridade e ainda corrigiu o
vale-refeição de R$12 para R$ 20.
Alguns
detalhes aparentemente sem importância podem ser interessantes para os próximos
enfrentamentos contra a “minoria”. Salta
aos olhos o grau de entrosamento do núcleo do poder. Quem buscar as imagens da mesa de negociação
verá que Justiça do Trabalho garantiu cadeiras cativas para a direção do
sindicato pelego. Indo mais adiante, vemos mais uma manobra sutil. O Jornal O Dia, apesar registrar, durante a
negociação, muitas imagens dos garis na porta do TRT, deu destaque na matéria
do dia seguinte a uma foto da fila de contratação de “garis emergenciais” que
substituiriam os grevistas demitidos. A classe dominante nunca joga para
perder, e se por ventura acontecer, jamais passa recibo para seus inimigos de
classe.
Só
nos resta, pôr em relevo alguns elementos dessa greve:
_ Que todas as vezes que as bases das categorias não
são levadas em consideração, é indício de que suas direções estão “fazendo gol
contra”;
_ Há a necessidade de se buscar lutas que catalisem
a solidariedade de classe e promovam a unidade de ação das organizações
classistas;
_ Um espectro ronda o país, o espectro do “Não vai
ter Copa!”. Ele vem se impondo de tal forma que ficará evidente o antagonismo
entre times da “minoria” e da “maioria”. Pelo que vemos, a “minoria” está cada
vez mais entrosada. E nós, vamos ser surpreendidos? Qual o papel das organizações classistas?
O jogo ainda está aberto. Mas os garis
mostraram o caminho.
A
luta continua ! Valeu garisada!
A falta de um projeto econômico autônomo e a falta da adequação desse projeto às necessidades da nossa crescente população impede que se garanta para os educandos condições de vida exemplares. Sem querer resolver a equação, formação e trabalho em beneficio do capital, acredito que qualquer sistema social que não consiga criar boas condições de vida para os egressos dos bancos escolares fica desacreditado e faz com que os alunos percam o inteesse na educação. Só assim a educação poderá exercer livremente o seu verdadeiro poder transformador.
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